sexta-feira, 9 de março de 2012

POETA DE BRASÍLIA VENCE X PRÊMIO LIVRARIA ASABEÇA

Resultado - X Prêmio Literário Livraria Asabeça

A Livraria Asabeça comunica o nome dos cinco autores e suas obras vencedoras do X Prêmio Literário Livraria Asabeça 2011. O prêmio tem por objetivo descobrir novos talentos e promover a literatura brasileira. O concurso foi dividido em cinco regionais: norte, nordeste, sul, sudeste e centro-oeste. O prêmio para o vencedor de cada região será um contrato de edição e publicação de sua obra com a Scortecci Editora, com lançamento para agosto de 2012, no evento comemorativo dos 30 anos da editora, durante a 22ª Bienal Internacional do Livro do São Paulo.

São eles:

Região Nordeste
Wladimir Saldanha dos Santos
Nome da Obra: As Culpas do Poema
Salvador / BA

Região Sul
Victor Soares Rodrigues Pereira
Nome da Obra: Pequenices
Porto Alegre / RS

Região Centro-Oeste
Edelson Rodrigues Nascimento
Nome da Obra: Águas de Clausura
Brasília / DF

Região Norte
Eritânia Castro Machado de Sousa Brunoro
Nome da Obra: Da Janela
Rio Branco / AC

Região Sudeste
Maraíza Labanca Correia
Nome da Obra: Refratário
Belo Horizonte / MG


Todos os 31 autores pré-selecionados receberão Menção Honrosa da Comissão Julgadora do X Prêmio Literário Livraria Asabeça 2011.


Mais informações:
asabeca2011@concursosliterarios.com.br
 
 
Feliz pelo resultado, que compartilho com os amigos, virtuais ou não!
 
Em tempo: EDELSON RODRIGUES NASCIMENTO é o nome de registro de EDELSON NAGUES. 

domingo, 6 de fevereiro de 2011

UM POUCO DE POESIA...

Em 2010 participei do "6º Desafio dos Escritores", uma oficina literária virtual coordenada pelo Núcleo de Literatura da Câmara dos Deputados. É também um concurso literário - e dos mais difíceis - que se estende por vários meses, com dez "provocações" (temas obrigatórios propostos aos participantes), notas e comentários dos jurados e, no final, escolha dos vencedores. Depois de ter praticamente abandonado a poesia por mais de duas décadas, aceitei o desafio de retomar esse gênero essencialmente literário. E o resultado me deixou feliz! Não só pelo 2º lugar na categoria "Poesia Livre" (havia também "Soneto") e por ter um dos meus poemas escolhido como o melhor do certame ("Sobre tempo e memória"), mas também - e principalmente - pelo grande aprendizado que experimentei, ao qual pretendo dar continuidade.

De um em um, vou postar aqui alguns dos poemas inscritos no "Desafio". Comentários, como sempre, serão bem-vindos.


SOBRE DORES E ABANDONOS
I

Tua dor é a minha morada.
Mas sou bêbado errante,
à procura de um bálsamo.

Estar contigo
é definir meu lugar no mundo.
(Como um animal ferido vislumbrasse sombra
à beira de um rio de águas límpidas,
e numa pedra macia repousasse a cabeça,
à espera do fim.)

II

Não sei quem és.
Nem sei quem sou.
(Busco respostas na poesia,
mas a poesia é inútil.)

Nós dois: o munduniverso.
(Falácia que inventei
como um ponto de fuga
– mas a palavra em si
é também um labirinto.)

III

Por mais que eu percorra desvios,
esquinas, becos, outros corpos,
retorno sempre ao não-lugar
em que te escondes de mim
(e, ensimesmada, de ti).

IV

Resigno-me, tal cordeiro
(eu, que nem sou dado
a essas metáforas tolas),
e me quedo, silente.

Se há saída, não sei.
Aliás, não me interessa.
(Há muito deixei ao acaso
a direção dos meus passos.)

V

O que desejo, enfim,
é dormir o sono tranqüilo e inocente
dos calhordas,
e acordar sem cansaço ou culpa.

Ou ainda, quando insone,
acender um cigarro
(eu, que nem fumo)
e, pela janela do milésimo andar,
entre uma baforada e outra,
ver a cidade diluir-se em luzes e abandonos.
E acompanhar a dança imprecisa
da fumaça
a tecer teu holograma-esfinge,
que se esvai entre meus dedos,
na impossibilidade mesma
do toque.

Edelson Nagues

(Poema inscrito na 2ª etapa do 6º Desafio dos Escritores e finalista do Concurso de Poesias Augusto dos Anjos 2010, promovido pela Secretaria de Cultura de Leopoldina/MG)

sábado, 27 de dezembro de 2008

UMA PROPOSTA DIFERENTE


Há uns quatro anos, no Ateliê Literário (uma oficina literária aqui em Brasília), ocorreu-me o insight de uma nova forma de escrever, resultando numa tentativa de aproveitar ao máximo cada frase, cada palavra, cada sílaba, cada letra, enfim. Um condensação extrema, numa pretensa potencialização da linguagem. Escrevi então, testando a tal técnica, o miniconto (míni mesmo!) Joyce in Sampa, narrando uma imaginária estada do escritor irlandês James Joyce em São Paulo. Não passava de uma brincadeira, um simples exercício. Para minha surpresa, no entanto, o texto teve excelente aceitação tanto pelo coordenador da oficina, o prof. Piero Eyben, como pelos colegas da minha turma. Acho que estavam cheios de meus outros textos... Então, para se verem livres deles, me incentivaram a investir na novidade. Animado - e ignorando essa possível e dissimulada intenção de meus colegas -, escrevi mais um miniconto (menor ainda que o primeiro), O/mar, que considero aquele em que melhor aproveitei a nova técnica, e "traduzi" para esta um outro conto curtíssimo, Um e outro, escrito originalmente na técnica "normal".

O curioso é que, não havendo nada semelhante na prosa (pelo menos que eu saiba), descobri uma utilização muito semelhante na poesia. Aliás, foi o Piero quem percebeu a semelhança e, para confirmá-la e me fornecer parâmetros para um aprofundamento da técnica, apresentou-me alguns poemas do poeta norte-americano e. e. cummings (Edward Estlin Cummings - a grafia em minúsculas foi popularizada por seus editores, como referência à sua sintaxe inusual) traduzidos (ou "transcriados") pelos irmãos Campos, notáveis poetas e tradutores. Outra coincidência é que o cummings - de quem eu conhecia tão-somente o poema Nalgum lugar, também traduzido por um dos Campos, o Augusto, e musicado pelo Zeca Baleiro (está no cd Líricas, uma belíssima canção) - morreu exatamente no ano do meu nascimento, 1962.

Resolvi trazer para este blog os dois primeiros minicontos a que me referi (anteriormente publicados no blog literário www.maldemontano.wordpress.com/category/contos), para que os leitores avaliem se vale a pena investir tempo e neurônios nessa, digamos, "possibilidade lingüística". Agradeço as críticas e/ou sugestões que porventura ocorram, sempre bem-vindas nesse processo que exige uma participação ativa do leitor, tanto para encontrar a forma de leitura como para balizar-me quanto à viabilidade de tal técnica.




JOYCE IN SAMPA


Acordo ced[o]/(ento). O corpo [de] amar/(elado) arfa, nu/lo. Gira a cabeça gira o quarto gira o mundo gira. Maldito gim! Era r/um (?) ou outro r[u]im dói. Um co[r]po d'á(gua): um porto. A mulher púbia em pêlo me ignoja. Dor/me. Eu [a] quero[,] (ir) embora. Meu desespelho se reflete no banheiro. Vasomito silente, des/ca(r)go. Saio pé-antipétala. Ela sozinhando (comi[go]?). Tropeço na sã(/Dália [me])dice. Talvez volte a ti[e]te(r). Rio de nós. Tal vez em que nos encontramos: des/tino.

Saio à rua[,](:) rot[o]/(a). In Sampa. Carros carram, velhozes. Nuvens nuvem: limites. Nu vem e vai, (na) mente. Pessoas pessoam: pés/sonham. E/difí[l](os)? Muito(s). Verbos vermem, in-signos. A (c)idade não pára. Eu si[m]/g(n)o. Preciso de ir lá.

Anda.


Brasília, 11.1.2005




O/MAR


"Aflige ver de repente as pessoas na praia
transformadas em pequenos riscos de carvão."
(Rubens Figueiredo - Barco a seco)



O/mar vê: [a] pres(s)a (de) entrar. No horizonte, [a]riscos[,] (de carvão ba)lançam-se(: b)arcos. En/canto de ser/eia. (A)Trai[,] O/mar.

A onda anda a onda anda a onda anda a onda. Ao longe, [a]riscos[,] (de carvão:) corpos ao s[o](a)l, b(and)eira do cais.

A mãe (se des)espera. Nada. Grita: "O!mar!"

A onda anda a onda anda a onda anda a onda anda. Onde? "O!mar!" Nada. "Salvem!"

Sal vem. Nos olhos de/la. Na garganta de cá.

[A]Braço(s) forte(s). Luta de(s)/igua(l)[is].

A mã[e](o): a[!]deus.

Omar: o mar.

UMA FOLHA CAI...

Aqui um poema do e.e. cummings. A frase "uma folha cai" é considerada pelo tradutor e poeta Augusto de Campos uma das imagens mais profundas da solidão (ou solitude, na tradução do próprio Campos). É notável a repetição da unidade - simbolizando o ser sozinho -, tanto em numeral, valendo-se da semelhança com a letra "L" minúscula, quanto em palavra ("one"). Verifica-se o uso da tmese, ou seja, corte de palavras com intercalações. Há que destacar ainda as soluções criativas do tradutor.

l(a

le

af

fa

ll

s)

one

l

iness

(e.e.cummings)

so

(l

f

o

l)l

(ha

c

ai)

itude

(Tradução: Augusto de Campos)